top of page

Casio Tone
Domicília dos dois lados do espelho

Pedro Pinto a partir do espectáculo de Sílvia Real e Sérgio Pelágio

capa site_edited.jpg

“Tinha vinte anos quando assisti à estreia de Casio Tone em Lisboa. Aquela personagem tomou-me de imediato, quase um assombro. Ela dançava uma parte envergonhada de mim. Dentro daquela casinha, o corpo da Sílvia parecia cristalizar tudo aquilo que eu, de forma mais ou menos consciente, tendia a esconder de quem me rodeava enquanto crescia, a começar pelos meus pais, e até de mim próprio. E o meu riso soltava-se com ela, não por qualquer impulso depreciativo face ao ridículo, mas porque, pela primeira vez, encontrava poesia naquilo que incorporara como “anormal” desde criança, mesmo sem precisar de diagnóstico.
Casio Tone será uma das primeiras peças coreográficas contemporâneas (se não mesmo a primeira, tanto quanto sei) sobre saúde mental. Nela, a doença mental surge como tema-chave, não tanto por vontade dos seus criadores (como veremos na Parte I) mas por força dos discursos que a peça eventualmente produz, e dos quais, conscientemente ou não, a sua construção também se serviu.
Quando digo “doença mental” não me refiro à grandiosa loucura do teatro, à gloriosa insanidade do amor e da morte. Refiro-me antes à pequena e recalcitrante perturbação, às mundanas e tácitas anormalidades do comportamento humano, tantas vezes resguardadas de olhares alheios - aquilo que os psiquiatras de há cerca de dois séculos chamaram de “neuroses” - muitas das quais são hoje agrupadas sob a definição e diagnóstico de perturbação obsessiva compulsiva (POC). Os seus sintomas caracterizam-se geralmente pela repetição incontrolável de certas ideias e acções, o que as torna potencialmente disfuncionais e angustiantes para quem assim as experimenta. Não sendo eu psiquiatra, nem sendo a Dona Domicília uma pessoa em sentido médico-jurídico, diria que dez minutos de peça bastariam para que um exame de diagnóstico de POC lhe fosse recomendado.”

                                                   Pedro Pinto

FICHA TÉCNICA

​

textos

Pedro Pinto, Gil Mendo e Sérgio Pelágio


tradução para inglês

Pedro Pinto


revisão

Pedro Pinto, Sérgio Pelágio, Sílvia Real, Susana Ribeiro Martins


projecto gráfico

Carlos Bártolo


edição

Produções Real Pelágio, AC


impressão

ACD print
© autores e Produções Real Pelágio, ac, 2024

Casio Tone: Domicília dos dois lados do espelho foi lançado na estreia de Casio Tone Reprise, a propósito do regresso, quase 30 anos depois, da Senhora Domicília aos palcos. É uma edição bilíngue português/ inglês, com textos da autoria de Pedro Pinto.


Para além de uma seleção de imagens e fotografias do Arquivo Casio Tone, o livro integra ainda dois textos inéditos: Cuidado com o meu espaço! um scenario ArtRose da autoria de Gil Mendo (1997), e Onde está o cenário?, um guião da autoria de Sérgio Pelágio (2002).

nota do autor: Este livro não é bem um ensaio, não é bem ficcional, não é bem uma biografia, não é bem sobre história da dança, menos ainda é um livro académico – e é tudo isso ao mesmo tempo.​​

Pontos de venda: Teatro da Voz (Lisboa) | Tigre de Papel (Lisboa) | Livraria Zé dos Bois (Lisboa) | Livraria Culturgest (Lisboa) | EMAIL

bottom of page